Muitos poderão me condenar por confessar ter festejado a morte de alguém, após mandar matá-lo. Contudo, creio que após contar minha desdita não me censurarão. Era ele um cara insuportável, teimoso insistente e mau, que vivia a me perturbar, tomando posse da minha vontade e da minha maneira de agir, por mais que eu reagisse. Sempre procurou estar perto de mim, desde a minha adolescência. Toda vez que o sentia se me aproximando, meu coração disparava, a adrenalina se agitava, a minha alma doía, espécie de tempestade desabava, conturbando-me o íntimo, além de me aconselhar à prática de atos não condizentes com o bem. Muitas vezes, dominado pela sua vontade, cometi erros que, por pouco não mudaram a minha vida para pior.
Difícil é descrevê-lo, por ter sido algo monstruoso, medonho, infecto, nauseante, poderoso e quase invencível em sua maldade. Era um câncer, cujas metástases se espalhavam e se fortaleciam cada vez mais. Não dominava somente a mim, pois tentava apoderar-se de todos sem cerimônia. Os mais fortes ignoravam-no, outros se deixavam dominar e outros ainda, travavam com ele terríveis batalhas a fim de o eliminar, mas nada conseguiam. Era tão maléfico e tão convincente, que muitas pessoas morriam nas mãos de seus seguidores. Eu, graças a Deus, nunca cheguei a tanto, a não ser quando mandei alguém acabar com ele.
Já estava cansado e resolvi lutar pela minha liberdade, disposto a tudo. Precisava matá-lo a qualquer custo. Entretanto, sentia-me impotente diante da sua força e agilidade . Resolvi procurar alguém que muitos diziam ser assassino eficaz de todos que praticavam o mal e pedi-lhe ajuda, contratando-o para eliminá-lo. De pronto veio em meu socorro, mas impôs-me a condição de ser ele o dominador da minha vida, o que aceitei sem relutância, por ter alguém me garantido que se tratava de um personagem que somente dava, a quem o aceitasse, bons conselhos. Sábio, seguro e mais poderoso do que o miserável que me perseguia, começou a grande peleja. Aos poucos foi ganhando terreno, enquanto a tudo eu assistia, procurando fazer a minha parte com os parcos recursos que possuía. Por fim, o velho dominador caiu vencido, estrebuchou-se agonizante e, deu seu último suspiro. Ninguém mais estava ali para destemunhar o assassinato sem ser eu e o contratado. Depois disso pude, então, encontrar um novo rumo sem pedir perdão a Deus e sem sentir remorso algum pelo que mandei fazer.
Não fui ao velório e festejei sua morte sim e, embora sabendo que as suas raízes ainda se estendiam de maneira assustadora por todos os cantos e recantos, resolvi comemorar o aniversário da sua partida, escrevendo-lhe inclusive um epitáfio com os seguintes dizeres:
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